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terça-feira, 13 de abril de 2010


saudações ao PT

Perdi as esperanças! Escrever, que sempre me foi um motivo de alegria, agora é coisa que faço me arrastando. Penso que o melhor seria parar de escrever. Vinicius de Moraes se referia à sua "inútil poesia". Poesia é inútil.

Os poetas são fracos. As fórmulas dos demagogos são mais palatáveis. Escrevo inutilmente. Minhas tristezas são muitas. Hoje escreverei inutilmente sobre a primeira: minha desilusão com o governo petista de Parauapebas.

O nascimento do PT anunciou a possibilidade da esperança: fazer política de um outro jeito, combinando ética, inteligência e a opção preferencial pelos pobres, em todos os níveis; pela construção de um Brasil mais justo, democrático e solidário. Passo fundamental para chegarmos à sociedade socialista e igualitária, com a qual tantos de nós sonhamos um dia. Um dia…

O PT fazia lembrar os profetas do Antigo Testamento que denunciavam os ricos que exploravam os trabalhadores sem jamais fazer alianças espúrias. Aí o rosto do profeta começou a apresentar estranhas rachaduras.

Em alguns momentos, o sonho, que acreditávamos coletivo, pareceu tornar-se realidade: 2002 – Lula Presidente: a esperança vencia o medo! Depois de percalços, recuos e barganhas, finalmente, chegávamos lá! Como num passo de mágico, o sonho se avolumou: e em 2004, Parauapebas, nos entrou sonho adentro – derrotávamos anos de abusos e malversação de recursos e do patrimônio público; íamos tomar o céu com as mãos: fora Faisal; fora Bel! Darci, prefeito cidadão…

Passados quase 06 anos, com direito a renovação da utopia cidadã-socialista com que tanto sonhávamos, e uma reeleição em 2008, nossos sonhos estão se desmanchando no ar, aliás, como bem o disse Marx, “tudo que é sólido desmancha-se no ar”. Vã ironia nos pregou o destino: “Tudo que é sólido desmancha-se no ar!” Logo Marx…

A frase é de Marx. Dele mesmo; do próprio! Nossos sonhos se desmancharam com a mesma solidez das convicções socialistas que hoje movem nosso governo cidadão e os neopetistas de Parauapebas.

Isto me faz lembrar mais uma vez Marx. Certa feita, ele profetizou que “a história não se repete; mas, se se repetir, na primeira vez será uma tragédia; na segunda, será uma comédia”. E nós acreditávamos que a tragédia havia sido a administração Faisal-Bel tendo o interregno do Chico das Cortinas no meio, entre um e outro!

Enganamos-nos! Eles eram a comédia, a farsa, pois que, ainda que em revés, ao menos nos divertíamos, mesmo que fosse sonhando! A tragédia ainda estava por vir: e veio; mas, tivemos dificuldade de nos apercebermos dela. Mantivemo-nos dormindo, embora acreditássemos que estávamos sonhando. O que acreditávamos trágico era farsa; o que supúnhamos sonho era pesadelo; o que era sólido desmanchou-se no ar!

Eis o retrato do governo cidadão. Ele é tragédia: o PT de Parauapebas é a farsa! A utopia governista assumiu ares de farsante. E a atual letargia do Partido é a demonstração de que continuamos dormindo: e não é mais para nos mantermos em sonho agradável: é para não nos acordarmos no pesadelo trágico-farsante de termos que admitirmo-nos enquanto tal!

Quanto ao nosso governante, alçado à esperança, que devo dizer? Que estou estupefato, curioso sobre os processos mentais que operam na sua cabeça para que se esquecesse com tanta facilidade das convicções de outrora. Hoje, chego a duvidar que algum dia as teve. Como não sou psicanalista, ignorava qualquer caso de amnésia parecido.

Intriga-me clinicamente a forma como funciona a cabeça desse profeta, misto de prefeito e charlatão, tendo-se em conta que não há caso na literatura religiosa de profeta que amoldasse suas convicções em obediência às bases, quaisquer sejam as bases!E então me pergunto: "O que é mais terrível? Ser silenciado pela violência de um ditador inimigo ou ser silenciado por ordem dos companheiros?" Ah! Também os companheiros podem ser repressores! E como podem: perguntem aos luises e joãos; aos mau-galhos e josés dos prazeres ou das dores! Perguntem!

A unidade do partido exige que todos brinquem de “boca de forno”: todos têm de pensar igual. O diferente é expelido. Como numa igreja ou numa máfia: devem ser eliminados; quiçá emudecidos; talvez, politicamente mortos.

Compreendi agora como me é difícil está filiado ao PT porque, se há uma coisa que prezo, é a liberdade para dizer o que penso, ainda que eu seja o único disposto a dizê-la.

Nosso tempo está passando. Do sonho trágico nos veio o escandaloso acordo Darci-Bel. Eis nosso profeta farsante: é um visionário: destruiremos o inimigo enquanto nos fingimos seus aliados. A mim, só me resta uma dúvida: quem é o inimigo?

O profeta, que diz tudo ver, deveria ter falado palavras de fogo contra os corruptos. Ao contrário, não só admite o fato como também o justifica: isso é normal no sul do Pará. E o que será que não é?
Agora, o inimaginável: como numa fotografia futurista vejo "companheiro" Darci cumprimentando a não menos “companheira” Bel Mesquita e se dispondo, como num singular lance de xadrez, a bancar sua campanha rumo a mais um mandato à Câmara dos Deputados, atalho necessário ao seu retorno, e estamos aqui “de volta ao futuro”, ao novíssimo “Paço Municipal”, tingido de vermelho; não sei se por homenagem ao nosso trágico sonho socialista ou ao rubor de nossas faces ante a farsa de nossa miserável realidade política.

Anuncia-se aqui o início de um possível novo noivado: o noivo trágico-farsante e a noiva farsante trágica! Para aumentar o meu espanto hoje, quando escrevia, vi como que em um devaneio futurístico, nosso “companheiro” Darci, alegre e sorridente, apertando a mão da "companheira" Bel Mesquita: de prefeito a ex-prefeito ou vice e versa. Qual seria a diferença?

Os falsos profetas, de fato, só podem sofrer casos de amnésia…

P.S.1: Os meus queridos amigos petistas que me perdoem. Meu estômago tem limites. Há um ditado que diz: "Pássaros com penas iguais voam juntos…". Concluo, logicamente: "Se estão voando juntos, é porque suas penas são iguais". Vocês não têm saudades da dupla Faisal-Bel? “Às vezes, eu tenho.”

P.S.2: O PT correntemente usado no texto é a sigla do que já se chamou “Partido dos Trabalhadores” e não, como agora tornou-se comum se referir, “partido das telhas”, depois do tão afamado episódio do “desvio das telhas” do Almoxarifado Municipal.

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